*** SETE PORTAS DA BAHIA ***
(...) O MEU AVÔ costumava à noite, depois da ceia, conversar para a mesa toda calada. Contava histórias de parentes e de amigos, dando dos fatos os mais pitorescos detalhes.
- Isto se deu antes do cólera de 1948 ou depois do cólera de cinquenta e seis.
Eram os sinistros marcos de suas preferências. O seu grande motivo era, porém a escravidão.
Tio Leitão dava nos negros como em bestas de almanjarra. Tinha uma escravatura pequena: um negro só para mestre-de-açúcar, purgador, pé-de-moenda.
- O major Ursulino de Goiana( PB ), fizera a casa de purgar no alto, para ver os negros subindo a ladeira com a caçamba de mel quente na cabeça. Tombavam cana com a corrente tinindo nos pés. Uma vez um negro dos Picos chegou na casa-grande do major, todo de bota e de gravata. Vinha conversar com o senhor de engenho. Subiu as escadas do sobrado oferecendo cigarros. Estava alí para prevenir das destruições que o gado do engenho fizera na cana dos Picos. Ele era o feitor de lá. O senhor pedira para levar este recado. O major calou-se afrontado. Mandou comprar o negro no outro engenho. Mas o negro só tinha uma banda escrava. Pertencendo a duas pessoas numa partilha, um dos herdeiros libertara a sua parte. Então o major comprou a metade do escravo. E trouxe o atrevido para a sua bagaceira. E mandou chicoteá-lo no carro, a cipó de couro cru, somente do lado que lhe pertencia.
Esta história da banda-forra, o meu avô contava para mostrar a ruindade do velho Ursulino
Por mestre Yrapuru DZ Historiador da Capoeira; arauto do clã dos Palmares pesquisador de História, e História Geral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário